Margem do rio – Leandro Jung
Caminhando pela margem do Rio Palmeiras (Orleans/SC), em direção ao oeste, os meus antepassados chegaram em seu lote de terra. O rio tornou-se um ponto de referência de para a localização dos colonos, em suas margens se fixaram e edificaram suas casas. Das águas do rio provinha toda a força motriz para impulsionar engrenagens dos engenhos, atafonas e serrarias. A água potável era utilizada para o consumo e para irrigar as plantações. Da agricultura resultava toda a alimentação da família.
No território estabelecido pelos imigrantes italianos está localizado o meu ateliê. Em Palmeira Alta (Orleans/SC) busco estabelecer relações com terra, diferente da agricultura como era feita pelos meus antepassados. Me aproprio da terra e dos elementos da natureza para produzir arte.
Obras de arte são produzidas em contato com as águas contaminadas pelos resíduos da extração do carvão mineral. A ação das folhas deixa marcas em tecidos posicionados na floresta. Os resíduos das queimadas na mata auxiliar do rio são impregnados em panos. Marcas são efetuadas em contato com as pedras. Pinturas são produzidas com tons terrosos coletados em Palmeira Alta.
Margem do Rio traz a representação de um olhar sensível do artista com sua história e seu cotidiano. Para que, os espectadores em contato com as obras, possam ser inspirados a terem um olhar poético sobre o cotidiano. O rio de águas cristalinas não existe mais, hoje é assoreado e contaminado. Incapaz de sustentar alguma vida, a arte é o produto – e talvez o único – que o rio pode proporcionar ao longo de seu fluxo de contaminação.
Leandro Jung (2022) Artista/educador/pesquisador