Entremeadas de Tempo – Betênia Silveira

COMO É QUE O MAR, TÃO GRANDE, CABE NUMA JANELA TÃO PEQUENA

Estava eu a pensar sobre a grande artista Betânia Silveira e sua obra quando deparei com esta frase de Afonso Cruz (a que virou título). Era isso o que eu procurava para falar da força poética, estética e artística de Betânia, ela é como o mar – movimento constante de calmarias e fúria, profundidades e intensidades, acolhedora, mas provocadora. Tudo isso numa janela/exposição.

Eterno simbolismo do imprevisível tempo quando uma peça de cerâmica (2014) sustenta o olhar ao centralizar a cena (2023) que abraça delicados desenhos xilografados. Um vídeo observa atencioso a janela que consegue absorver Betânia Silveira, que um dia chegou sussurrando aos meus ouvidos como era desenhar, pois só sabia do barro, da queima, da esmaltação e também dos estudos, porque para consumar seu saber chegou ao doutorado e construiu máscaras – persona- que moldaram sua força e sua inquietude.

O artista-escritor aparece novamente e me diz:

Por acaso, o poeta acha que vegetais e frutas são os mais importante da pirâmide
das necessidades?
Evidente que não.
E o que é, então?
É a liberdade.

O processo de desenhar de Betânia se constitui pela liberdade de saber olhar e transcrever em linhas e sombras as nuances que a vida lhe apresenta. Betânia apresenta essa força da liberdade nesse belo e intenso conjunto, na exposição

 

Sonia Assis – Artista visual
Belo Horizonte – MG 2023