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Título: Entremeadas de Tempo
Artista: Betânia Silveira
Técnica: Xilogravura em papel fosco
Dimensões: 44 x 31,5 x 2,8 cm
Ano de produção: 2022

Obra doada após a exposição do Edital 2023 “Entremeadas de Tempo”

O ser humano e a natureza sempre foram centrais no desenvolvimento de meu longo trabalho, que no tempo já se vestiu com inúmeras linguagens diferentes. O tempo é pensado e vivido como o grande campo das construções humanas, da formação e transformação do sujeito, suas curas e desdobramentos. A natureza sua mestra, mãe musa e parceira, a outra linha que trama com o tempo histórias de vida e morte.
Nesse sentido, compreendo que somos frutos de varias camadas de tempos, que abrigam tramas de raízes profundas, cujas origens longínquas, a princípio, não ficam registradas na memória subjetiva que nos perfaz, mas são eternamente guardadas na estrutura de nossas células. Sendo assim, somos tecidos por varias meadas de natureza em seus acontecimentos ao longo do tempo e nesta tessitura reside a evidência de que a diversidade nos habita de forma essencial e indelével.
Já há muito, minhas produções visuais e afetivo-plásticas bebem nas fontes da ancestralidade e do desejo de compreender conhecer reconhecer minha identidade construída, também, sobre anonimatos e apagamentos, e para alem de fenótipos e formações sócio-normativas. A reflexão de que, por vezes, em aparência aquilo que não se vê, ainda assim é passível de existir, me faz compreender que nossos ancestrais vivem em nós!
Durante a pandemia tendo que estar reclusa, me encantaram as sombras de uma cerca viva projetadas na parede da minha casa. Dei inicio á vários desenhos a partir delas e, ao mesmo tempo, intercalava a esta atividade, a modelagem e feitura das cerâmicas que juntamente aos desenhos geraram a exposição Rebrote Mariposa, apresentada na Galeria das Oficinas de Arte do CIC em junho/julho de 2022.
Após essa produção e Mostra, realizei imagens fotográficas dos mesmos desenhos, acima abordados, e com elas parti para a experiência da Gravura. Com a xilogravura e seus resultados me propus a pensar plasticamente sobre as inúmeras e longínquas raízes que tramadas e sobrepostas nos constituem como seres humanos de hoje e de qualquer outro tempo passado.
Através da montagem das imagens realizadas em xilogravura sobre diversos papeis foscos e
transparentes – Canson, vegetal, jornal e de seda -, é gerado um acúmulo de imagens das raízes, e assim apresenta-se a ideia de estratos e diferentes níveis de espaço e tempo.
Esta exposição tem como ideia central a tessitura entre ancestralidade/natureza, constituição do sujeito e tempo. Neste processo a reflexão que faço aponta para a necessidade da busca por equidade entre os seres humanos, questão premente na sociedade contemporânea.